Vale calculou US$ 2,6 milhões por morto

Ministério Público do Trabalho teve acesso a documentos da mineradora que previam prejuízos em caso de rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão


Por Leticia Villas

Em estudos realizados em 2015 pelo Departamento de Ferrosos da Vale antes da tragédia de Brumadinho, a mineradora previa um valor de 2,6 milhões de dólares por cada morto em caso de rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho. No documento também consta uma previsão de “apenas” 20 mortos. Os bombeiros contabilizam hoje 236 mortos e 37 desaparecidos.

A informação é do procurador do Ministério Público do Trabalho, Geraldo Emediato. “Estamos pedindo este valor, que parece exorbitante, mas foi calculado pela própria empresa”, informou.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (25), data em que o crime completa três meses, durante reunião aberta com os atingidos convocada pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal e Defensoria Pública da União.

 

Reunião

Quem abriu a reunião foi o coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos. Ele falou sobre a necessidade de deixar claro que o que aconteceu em Brumadinho foi crime, e que a Vale deve pagar tudo o que deve.

 

Acordo secreto

Além das informações obtidas sobre os custos calculados pela Vale em caso de acidentes, o promotor de Justiça André Sperling também falou sobre o acordo firmado entre a Defensoria Pública de Minas Gerais e a mineradora. “Tivemos acesso aos termos do acordo e percebemos que existem várias armadilhas e vários perigos para os atingidos. Finalmente conhecemos os termos que eram secretos e queremos explicitar os riscos”, afirmou.

Desde que começou a mediar as negociações extrajudiciais, a atuação da Defensoria Pública de Minas Gerais tem sido questionada na Justiça. Os termos do que foi acordado sempre foram mantidos em sigilo e a DPMG alega que o silêncio é para garantir a privacidade e a segurança dos envolvidos.

“Sei que tem muita gente desesperada, precisando de dinheiro. O acordo pode ser assinado, desde que deixe claro que é apenas um adiantamento de indenização e não quita a dívida da Vale com os atingidos”, explicou o promotor.

Ele também falou sobre o perigo de separação dos moradores, se cada um for morar em um local. Sperling explicou que unidos eles são muito mais fortes.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) já haviam criticado o acordo desde que foi anunciado. Nele, as pessoas atingidas podem optar por acordos individuais ou coletivos para buscar indenização por danos materiais e morais. “Quem se sentir maduro para pensar sobre o dano pode procurar a defensoria em Brumadinho. O defensor público, em conjunto com o atingido, vai compreender as demandas, caso a caso, e transformar isso em substância jurídica”, explicou na época o coordenador do núcleo estratégico de proteção aos vulneráveis em situação de crise, defensor Antônio Lopes de Carvalho Filho.

Segundo apurou o MP, foi feita uma “tabela” com valores de indenizações em caso de morte, perda de imóvel e de negócio, etc. Quando o atingido opta por este acordo, é somada cada perda que ele teve e definida a indenização.