Barcelona reage ao atentado

A cidade chora seus mortos e se une pela paz e tolerância, um relato in loco de Katja Polisseni


Por Katja Polisseni

Foto: Edi Barcelos

 

“Nem ódio, nem medo”. A frase, em suas versões em espanhol e catalão, está presente nas várias manifestações que acontecem ao longo da Rambla, em Barcelona, neste sábado, (19/08), mais de 40 horas após o atentado que matou 14 pessoas e deixou mais de 180 feridos em um atropelamento massivo.

A cidade tenta recuperar-se e a população dá mostras de que a paz e a tolerância permanecerão. Por volta de 12h30, a via, que é a mais turística e uma das mais movimentadas da cidade, estava repleta de gente. Cidadãos de Barcelona e turistas de todo o mundo. Flores, bichos de pelúcia, velas acesas e mensagens foram acrescentados à paisagem e dispostos nos vários altares, além da presença da polícia armada e de equipes de televisão e jornalistas de diferentes países.

Foto: Edi Barcelos

A comunidade islâmica se organizou por meio das redes sociais e foi às ruas levar sua mensagem de paz. Famílias e muitas crianças levaram cartazes com dizeres como “Islã é amor” e “Sou muçulmano, não sou terrorista”. A jovem Sawa, de 26 anos, que preferiu não dizer o sobrenome, conta que nasceu na cidade, mas que é de origem marroquina. “Viemos para dizer não ao ódio e sim ao amor. Toda minha família e amigos estão aqui e nunca sofremos nenhum tipo de preconceito. Viemos às ruas para nos solidarizar e dizer que não apoiamos qualquer ação terrorista”, disse.

Um grupo de moças que participava da manifestação citou um texto do Alcorão: “Matar a uma pessoa inocente é como matar toda a humanidade” (tradução livre do espanhol “Quien mata a uma persona inocente es como si matara a toda la humanidad”).

Foto: Edi Barcelos

A espanhola Siria Sanches, moradora do bairro Raval, vizinha à região do acidente, conta que após a liberação da área pela polícia tem participado em todas as ações convocadas em nome da paz. “Estive na cerimônia oficial de ontem em homenagem às vítimas e, à noite, me juntei aos vizinhos da região na vigília”, afirmou. Presente no ato promovido pela comunidade muçulmana, ela destacou ser fundamental buscar um ponto de encontro e equilíbrio entre as diferentes culturas. Ao longo da via, pessoas rezavam a sua maneira pelas vítimas e pela paz.

Na Boqueria, o mercado mais popular da capital da Catalunha, o sábado estava mais movimentado que o habitual, segundo uma senhora que vende frutas no local. No dia do atentado, uma onda de pessoas invadiu de supetão espaço para se proteger. “Temos que reagir, enfrentar a realidade. Não tenho medo e nem ódio”, disse, repetindo a frase exibida nos cartazes. Um trecho da calçada foi decorado por palavras escritas em giz, coloridas, com referência aos países de quem passa pela Rambla diariamente, e com mensagens de amor e paz.

Foto: Katja Polisseni

A brasileira Maria Dantas, que vive em Barcelona há mais de 20 anos, também esteve nas Ramblas, neste sábado, ao lado de outros três ativistas brasileiros, para prestarem solidariedade. “Os terroristas não vão conseguir amedrontar esta cidade, que é absolutamente diversa, multicultural. Aqui na Catalunha falamos 250 línguas. A rede de imigração é imensa. Queria dizer também que em Barcelona aconteceu no dia 17, mas a cada dia acontecem atentados terroristas no mundo inteiro. Aqui mesmo, na Península Ibérica, morre gente diariamente tentando entrar na Europa”, disse.

Na noite de sexta-feira, a brasileira Michele Faria Pithon, paulista que vive em Barcelona há um ano e meio, foi à Rambla com o filho mais velho, de 18 anos. “Era uma situação muito triste. Pessoas orando, acendendo velas, cada hora chegava mais gente. Como brasileiros, achávamos que nunca iríamos passar por isso” disse, aliviada por seu filho, no dia do ataque, ter passado duas horas antes pelo local.

Foto: Edi Barcelos

Reflexo em Tarragona

Poucas horas após o ataque em Barcelona, cinco supostos terroristas foram mortos pela polícia na cidade de Cambrils, na província de Tarragona. A polícia informou que eles tentavam replicar a matança da capital catalã no passeio marítimo da cidade. A ação deixou uma vítima e aumentou o policiamento na região.

A espanhola Patrícia Carbo Nevado, que vive em Barcelona, viajou na tarde de sexta de trem para Salou, outra cidade turística da Costa Dourada, onde os filhos passam férias com os avós.

Foto: Edi Barcelos

“Quando o trem parou em Tarragona começaram a subir policiais e a revistar todos. Ficamos muito assustados pois chegaram ambulâncias e eles estavam armados com metralhadora”, disse.

Segundo foi informada, haviam dado alarme de atentado ao trem e os passageiros foram levados a uma sala escura e sem saída na estação. “Felizmente tudo foi um susto, mas uma experiência que nunca esquecerei”, disse.