Virou briga

Frente a frente, Pimentel faz duro discurso contra Temer na posse da nova diretoria da Fiemg


Por José Antônio Bicalho

Marcelo Sant’Anna -Imprensa MG

Saíram faíscas no encontro do governador Fernando Pimentel e o presidente Michel Temer, na noite da última quinta-feira, na solenidade de posse da nova diretoria da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em Belo Horizonte. Ambos oradores no evento, Pimentel, que falou primeiro, disfarçou com cordialidades um duro discurso contra Temer, culpando-o pela greve dos caminhoneiros que paralisa o país. E cobrou pelas “obras inacabadas, programas interrompidos e recursos não repassados” a Minas Gerais. Temer tentou reagir, cobrando do governador a redução do ICMS sobre os combustíveis. Veja abaixo a íntegra do discurso de Pimentel, o vídeo e a resposta de Temer.

Veja aqui o discurso – parte 1

Veja aqui o discurso – parte 2

Discurso de Fernando Pimentel

“Caro presidente Temer, a tradicional hospitalidade mineira e a secular cordialidade dos nossos costumes políticos certamente não me autorizam a usar esse espaço para elencar as inúmeras demandas, todas elas legítimas, do nosso estado para com o governo de vossa excelência. São obras, algumas inacabadas; programas, alguns interrompidos; recursos, muitas vezes reduzidos ou não repassados; enfim, um extenso rol de reivindicações que poderiam ser trazidas, mas que não devo elencar aqui agora. Teremos, com certeza, outras melhores oportunidades para tratar disso.

Mas com todo o respeito e consideração que merece o cargo que vossa excelência ocupa e com a amizade que a nossa relação pessoal já de vários anos abriga, eu me permito abordar um tema de superior interesse dos brasileiros em geral e dos mineiros em particular. Falo da crise que paralisa hoje o país provocada pelo movimento dos caminhoneiros. Há de convir vossa excelência, presidente Temer, que o aumento do preço dos combustíveis em mais de 50% num período inferior a 12 meses é absolutamente incompatível com o nível de preços geral da economia nesse estágio em que a inflação mal alcança 3%. A alegada correção de práticas passadas não pode nem deve ser suporte para uma política de preços tão descolada da realidade quanto essa hoje infelizmente assumida pela Petrobras.

A recente reação do presidente da nossa estatal de petróleo, que aliás muito me surpreendeu porque se trata de um técnico competente, respeitado, ao dizer que seria inaceitável qualquer mudança nessa política, visivelmente equivocada, desrespeita não só a hierarquia, posto que o presidente da república é o senhor e não ele, mas principalmente a lógica econômica dos empresários e dos trabalhadores brasileiros. Afinal, nós não somos os Estados Unidos da América, nós não emitimos dólares, nós não dispomos do mesmo nível de renda e nem muito menos da hegemonia econômica daquele país.

Nesse quesito, o preço de petróleo adotado no modelo norte-americano na nossa terra tropical é um contrasenso, semelhante a usar tanga no polo norte ou casaco de pele no Saara.

As combalidas finanças dos estados e dos municípios. A raiz do problema é o preço dos combustíveis e a forma como ele está sendo administrado. Corrigir isso é atribuição federal incontornável, inescapável, indivisível. Encerro, senhor presidente, renovando minha total confiança na sensibilidade de vossa excelência e no seu compromisso com o nosso país, para que busque solução urgente e compatível com os anseios de toda a população. E reafirmo agora nossa mais integral solidariedade ao povo brasileiro, esse sim o maior sacrificado por esse quadro de paralisia econômica e desagregação social que vivemos hoje no Brasil. Que Deus nos ilumine na busca de caminhos para superar esse momento.

Resposta de Michel Temer

Na verdade uma das principais fontes desse acordo está na redução do PIS/Cofis, do Cide e amanhã, sabe a vossa excelência, nós convocamos, convidamos, melhor dizendo, os secretários da Fazenda porque a incidência maior do tributo é de natureza estadual, é o ICMS. Nós queremos que amanhã, até peço a sua proverbial atenção, recomendando ao seu secretário da Fazenda, que nós também possamos retirar uma parcela do ICMS.

Firmaram um documento, de uma espécie de pré-acordo, um acordo com as lideranças que serão levadas naturalmente às várias categorias, mas com isso eu creio que talvez até amanhã nós tenhamos solucionado em definitivo. A assinatura desse acordo, de que todos participaram, vai naturalmente fazer com que os caminhoneiros sejam atendidos, primeiro ponto, e em segundo ponto seja também atendida a população, porque os caminhoneiros prestam um relevantíssimo serviço ao país na medida que são os encaminhantes, digamos assim, de toda a produção nacional.