Ditadura Nunca Mais

O Beltrano preparou uma série especial de textos em repúdio ao golpe de 64, que hoje completa 55 anos


A iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de determinar que se façam as ‘comemorações devidas’ ao golpe de 1964 pode causar indignação e revolta, mas de maneira nenhuma, surpresa. É coerente com sua trajetória e fala pública em defesa da tortura, torturadores e ditadores, como Augusto Pinochet, que comandou o regime repressor no Chile.

Resta saber como a determinação do presidente será seguida dentro dos quartéis, pelos comandantes militares. Se as comemorações forem efusivas, será a sinalização de que a ‘banda podre’ das Forças Armadas começa a se organizar e pode sair do controle, assim como em 64 e, principalmente, em 68. E isso é um perigo, já que a possibilidade desse governo nos jogar numa situação de caos econômico, instabilidade política, crise social e fragilização das instituições democráticas é real.

Bolsonaro representa o que houve de pior no golpe militar de 1964. Defende a tortura, o assassinato político, o fuzilamento de ‘bandidos’ e dos “inimigos”, a ação policial clandestina e as milícias. Muito mais do que a luta contra uma suposta ameaça comunista que justificou o golpe militar de 1964, nosso atual presidente é vinculado à ideologia da organização terrorista de direita, do banditismo paramilitar e do ‘fazer justiça’ com as próprias mãos.

A ditadura que Bolsonaro propõe que seja comemorada é a do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador sádico e símbolo da perversão na qual mergulhou o regime militar. É a ditadura assassina, dos porões, dos choques, dos empalamentos, dos estupros, alicerçada nos grupos de extermínio do baixo clero do exército. Um comandante militar legalista e decente, mesmo que anticomunista, não deveria acatar o chamamento à comemoração do assassínio, da tortura e do desmando nos quartéis. Bolsonaro quer comemorar os esquadrões da morte, e isso deveria ser entendido como incitação à quebra de hierarquia por um comandante militar decente.

Sabemos que a Defensoria Pública da União tentou impedir as comemorações com um pedido de liminar feito à Justiça Federal, sob o argumento de ‘afronta à memória e à verdade’. Também sabemos que essa liminar foi cassada no sábado a partir de um recurso impetrado pela Advocacia Geral da União, e, salvo surpresas, as comemorações se darão hoje, domingo, 31 de março de 2019, quando o golpe civil-militar que implantou a ditadura completa seus 55 anos.

Para lembrar a data tenebrosa, O Beltrano reuniu uma série de textos de pessoas que viveram a ditadura e lutaram contra ela. E que ainda estão na luta pela preservação da democracia e em defesa dos pobres e das minorias. Trata-se da nossa contribuição ao chamamento, urgente e necessário, de “Ditadura Nunca Mais”. O Beltrano estará no Ato de Repúdio à Ditadura, neste domingo, na Praça da Liberdade, com concentração a partir das 10 horas.